Sem título.

Uma vez uma grande amiga minha disse que eu fico cega quando estou apaixonada. Que fico agindo como se o felizardo (ou azarado?) fosse a pessoa mais sem defeitos do mundo, como se todas as suas atitudes fossem para o meu bem, como se tudo fosse cor-de-rosa e perfeito. Como se eu fosse o centro do mundo. Essa mesma amiga minha, em 2005, me enviou uma carta (eu, no auge de uma das minhas eternas dores de cotovelo) dizendo: – Luiza, se toca! Você não é a Terra e ele não é o Sol pra girar ao seu redor.

Não sei bem porquê, mas agradeço a essa minha amiga por essa frase. Nem tem tanto efeito assim. Mas, há três anos, nunca a esqueci. E olha que o Sol da vez nem era importante. Era um merda. Mas por que será que só enxerguei isso depois que fugi do que eu supostamente sentia por ele? Minha amiga, como sempre, tinha razão. Eu estava cega.

Ocorre que eu passei um bom tempo cega. E agora… Agora as coisas estão bem mais claras. É um sentimento de decepção, sabe? Mas decepção comigo mesma. Vontade de voltar atrás e não ter sido tão boba. Talvez eu tenha sido certa de não acreditar em tudo (na verdade, em quase nada) que me disseram, de sempre desconfiar e de, hoje, acordar para os fatos e ver que, realmente, aquilo não era o melhor pra mim. Na verdade, talvez nunca tenha sido. Isso não ta sendo uma sensação de arrependimento, nunca. Não sou do tipo que se arrepende. Só que, como outra amiga minha diz, eu sou inocente. Besta. Burra. Acredito em tudo quando estou cega.

Acho que o livro que há pouco terminei de ler – Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa – fez com que eu ficasse tão desiludida, tão triste em ver como uma pessoa pôde (mesmo na ficção) se martirizar tanto, ou estar sempre disponível quando, entre tantas idas e vindas, tanta humilhação, tanto desespero, tanta falta de respeito e de estima, ou, simplesmente, amar e ter tanta devoção a alguém que não merece. “A velha história estava pra se repetir. Nós íamos conversar, mais uma vez eu me renderia ao poder que ela sempre teve sobre mim, viveríamos um breve e falso idílio, eu criaria todo tipo de ilusões e, na hora menos esperada, ela ia desaparecer e eu, machucado e zonzo, ficaria lambendo minhas feridas (…)” (p. 171).

O que leva uma pessoa a amar tanto, a ponto de esquecer de si mesma? O amor por si e consigo mesmo é o mais importante que um ser humano pode ter. O motivo é óbvio. Todos estão suscetíveis a te decepcionar. Inclusive você mesmo. Contudo, é mais fácil perdoar a si, pois os motivos são conhecidos íntimos, amigos de longa data e extremamente plausíveis, ou, pelo menos, compreensíveis. Você sempre estará ali pra você mesmo. Por isso, deve se amar acima de qualquer outra pessoa. Mas não só por isso. É necessário se admirar, progredir, crescer, para que possa sentir orgulho de si mesmo, dizer: “Caralho, eu sou foda”. Fazer com que as pessoas também digam isso, pensem isso, te tenham como paradigma. Como um (bom) exemplo. As pessoas, os acontecimentos, tudo que te rodeia são conseqüências do que você é, do que você faz. E aí, então, você se torna alguém único, especial, insubstituível.

Insubstituível… é tão comum ouvirmos esta palavra. “Você é insubstituível!”. Claro. Cada um é insubstituível, por si só. Mas por que a tendência é tentar substituir as pessoas/coisas que já não estão na sua vida? Não é raro uma pessoa namorar 8, 10 anos e, após esse relacionamento acabar, começar um outro, durar dois meses e, após esse “longuíssimo” período, casar. É muito irônico isso. As pessoas tornam-se fungíveis. Como uma produção em massa, como um grãozinho de arroz no meio de tantos outros. Não faz diferença estar com um ou com outro. Por quê? O porquê também é bem óbvio. Porque você (fraco de espírito) substitui. Faz as mesmas coisas que costumava fazer (como, por exemplo, brincar de um determinado jogo), diz as mesmas coisas que costumava dizer. E sem ao menos lembrar do outro. As pessoas têm preguiça de reconstruir, eu acho. E o pior é que você, quando está ao lado desta pessoa, acredita no poder que a palavra ‘insubstituível’ tem.

Agora, volto ao início. Você está cega, acreditando (mesmo sem querer e sem assumir acreditar) em tudo o que está sendo a você dito. Acho isso natural. É natural que as pessoas criem ilusões, sejam inocentes, burras e, mesmo que esteja bem claro para as pessoas que estão ao seu redor, que não raramente aconselham, alertam, não há como você saber. É muito mais fácil para terceiros opinarem e estarem certos. Mas também podem estar errados. Vai saber…

Depois de um tempo, tudo isso fica pra trás e o que resta são apenas elementos que fazem parte de sua experiência de vida. Não resta saudade, não resta qualquer vestígio daquilo que você chamava de “amor eterno”. No máximo, neste sentido, restam lembranças esporádicas e efêmeras. E depois, você está preparada para ter aquela velha venda pendendo sobre seus olhos novamente, preparada para acreditar que o Sol vai girar ao seu redor. E, quem sabe, preparada para ser feliz como nunca antes.  

 Ouvindo: Marisa Monte – Não vá embora.

~ por littlesisters em janeiro 26, 2008.

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